domingo, 27 de fevereiro de 2011

Obesidade -Uma doença do Nosso tempo

Por Dra. Bibiana Prada de Camargo Colenci |Revista Botucatu Especial

A obesidade é uma doença que pode ter complicações como pressão arterial alta, colesterol elevado e diabetes mellitus, podendo finalmente levar ao infarto ou ao derrame cerebral. As causas da obesidade são múltiplas e cabe ao endocrinologista identificá-las corretamente para efetuar o tratamento adequado, juntamente com o controle de suas complicações. Algumas vezes, as causas da obesidade são doenças bem definidas como o excesso de cortisol produzido pela glândula adrenal, o hipotireoidismo e a acromegalia, entre outras. Porém, mais frequentemente sua causa é a ingestão excessiva de alimentos.
Muitas vezes ouço pacientes dizerem que, mesmo comendo em pouca quantidade, não emagrecem. Porque isso acontece? Ora, é porque temos no código genético informações que controlam nosso gasto de energia. Algumas pessoas são “programadas” a economizar mais energia (calorias) que outras. Estas pessoas podem comer pouco, mas irão criar uma reserva energética que chamamos de gordura. No entanto, é interessante notar que também podem engordar, e muito, aqueles indivíduos que não têm esta programação de estoque energético. Isso ocorre porque o estilo da vida moderna, com os excessivos compromissos, o sedentarismo, e os fast foods, obrigam-nos a ingerir e reservar grande quantidade de calorias. Então, se não controlamos o que comemos, e não fazemos atividade física, acabamos engordando.
Porque comemos tanto no dia-a-dia? Existem diversos motivos para comermos mais do que nosso corpo necessita. A oferta de alimentos gordurosos é um deles. Vocês já notaram quantas propagandas de comida vemos nos intervalos da televisão e nos outdoors? Uma vez contei durante o intervalo de uma novela: nove chamadas de comida. Todas recheadas e gordurosas. Não é à toa que depois de um capítulo da novela corremos para “fazer uma boquinha”. Outro motivo para comermos muito é a correria do dia-a-dia. Temos trabalho, casa, família, reuniões. Tudo rápido demais. Não temos tempo para sentar e ter uma refeição como faziam nossos avós. Comemos “qualquer coisinha” para estancar a fome. De preferência algo rápido como um lanche, um salgado e refrigerante, que são riquíssimos em gordura e carboidratos. Sem falar que mastigamos muito rápido e consequentemente comemos mais. Após 20 minutos de uma refeição, o hormônio da saciedade é liberado em nosso corpo, não importando se comemos muito ou pouco. Como ele vai ser liberado de qualquer modo, se mastigarmos devagar, o volume de comida que ingerimos será menor aos 20 minutos. Isto pode evitar que engordemos.
O excesso de refrigerantes é outro comportamento que engorda muito. Mesmo os diet e light. Eles contêm componentes que aumentam a fome após sua ingestão. O mesmo vale para o cafezinho, que abre o apetite, ainda mais quando servido com açúcar. O açúcar diluído num líquido é absorvido de forma mais rápida, não precisa sofrer digestão. Soma-se o cafezinho ao açúcar e temos uma boa fórmula para ganhar peso. Três ou quatro xícaras de café por dia pode ser saudável, contanto que seja sem açúcar.
Os problemas emocionais são outra causa da obesidade. Ansiedade e depressão, ambos podem fazer com que comamos mais. Nestes casos é importante ter um acompanhamento psicológico e muitas vezes tomar medicamentos bem indicados.
Falando em medicamentos, os remédios para perda de peso são úteis para aqueles pacientes que não conseguem perder peso apesar de seguirem uma dieta saudável e realizarem atividade física. Eles devem ser prescritos por um profissional especialista, que entenda seu mecanismo de ação farmacológica, para evitar efeitos indesejáveis.
Vale lembrar que todas essas causas podem estar associadas.
Uma avaliação detalhada pelo endocrinologista permitirá descobrir a causa da obesidade e encontrar a fórmula para você perder e manter um peso adequado para seu organismo, prevenindo o desenvolvimento de doenças como pressão alta e diabetes.
Dra. Bibiana Prada de Camargo Colenci
Endrocrinologia - CRM 93718
Especialista pela Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia

insulina - dúvidas e mitos

Por Dra. Bibiana Prada de Camargo Colenci | Foto Malu Ornelas
1.O que é a insulina?
A insulina é um hormônio anabolizante, ou seja, ele nos ajuda a crescer e manter nossos órgãos saudáveis. Mais do que isso, a insulina ajuda a colocar o açúcar dentro da célula; e o açúcar será o combustível para gerar energia e manter a célula fazendo suas atividades habituais.


2.O que acontece se falta insulina?
Sintomas de Diabetes Descompesnsado
A falta de insulina acarretará em falta de açúcar nas células e acúmulo da mesma no sangue. A falta de açúcar na célula faz com que a célula queime outros combustíveis formando ácidos. O acúmulo de ácidos pode levar a desorientação e coma. Ocorre queima de vários elementos importantes e desta forma perde-se peso às custas de perda de músculos e órgãos vitais. Por outro lado, o excesso de açúcar no sangue acelera o processo de aterosclerose nas arterias. O corpo tenta livrar-se deste excesso, assim o indivíduo urina muito, perde  água e pode ficar desidratado, piorando o quadro de desorientação e acelerando a instalação do coma.


3.Se eu tomar insulina vou ficar dependente?
Não. Insulina não causa dependência. Ou você precisa de insulina, ou não precisa. Nos casos de Diabetes Mellitus infantil (tipo1), há falência da produção de insulina. Não há insulina circulante. Para se evitar o quadro descrito acima há necessidade de se repor uma substância que o corpo não fabrica. Neste caso, a insulina.
Algumas vezes o diabético em uso de comprimido necessita de insulina temporariamente, por exemplo, quando vamos passar por alguma cirurgia, apresentamos infecção grave ou na mulher que desenvolve o diabetes gestacional. Nestes casos, após a resolução do quadro, podemos voltar à terapia anterior.
Há outros casos onde o pâncreas parou de produzir a insulina, seja pelo tempo de
Diabetes, ou pelo tipo da doença. Nestes casos a reposição de insulina é vital. Há pessoas resistentes quanto ao uso de insulina e após a introdução voltam se sentindo melhor e se questionado porque não iniciaram este tratamento antes.
Por outro lado, diversos estudos recentes mostram que quanto mais precoce a introdução de insulina, melhor.


4.Mas, quando minha avó introduziu insulina há alguns anos atrás, ela piorou. Por quê?
Porque até a algum tempo os critérios para introdução de insulina eram outros. No momento da introdução, o indivíduo já apresentava diversas complicações irreversíveis causadas pelos longos anos de diabetes mal controlado. Desta forma, o beneficio do uso de insulina já não era tão grande. Hoje, o tratamento precoce com insulina possibilita preservar as funções do organismo e evitar complicações que podem trazer queda da qualidade de vida e morte.
Além disso, ao iniciarmos o tratamento antes de esgotar nossa reserva, preservamos nosso pâncreas para uma eventual necessidade (por exemplo, em momentos de infecção). Trabalhos recentes apontam que pessoas que introduziram insulina no início do tratamento do
Diabetes têm menor complicações do que as que não fizeram uso precoce.


5.Quais os benefícios da reposição de insulina?
Na dose certa prescrita por seu endocrinologista a insulina:
1. Melhora seu bem estar e disposição (através da melhora do controle glicêmico)
2. Melhora o controle glicêmico evitando futuras complicações
3. Preserva a insulina que seu corpo produz
4. Melhora o raciocínio
5. Ajuda a melhorar seu controle de colesterol e triglicérides
6. Ajuda a recuperar a massa óssea e muscular perdida durante o descontrole glicêmico


Então, não há motivo para descartar o tratamento de insulina como uma das melhores opções para o paciente diabético. E tenha em mente que a insulina poderá salvar sua vida, prevenir as complicações a longo prazo decorrentes do
Diabetes Mellitus, e trará, juntamente com o bom controle, uma ótima qualidade de vida.
Bibiana Prada de Camargo Colenci

Endocrinologia e Diabetes - CRM 93718

sábado, 26 de fevereiro de 2011

A Tireóide e Suas Doenças

A Tireóide e Suas Doenças 


Freqüentemente os pacientes vêm com queixas e dúvidas relativa à tireóide. Há muita especulação sobre o que as doenças da tireóide podem causar. Este artigo deverá esclarecer algumas dúvidas e diminuir a ansiedade dos leitores que sofrem com tireoideopatias.


1. Afinal, o que é a tireóide?

A tireóide é uma glândula que fica logo abaixo da cartilagem cricóide (o popular gogó), e acima da fúrcula esternal (aquele osso que separa o pescoço do tórax). Ela produz os hormônios tireoidianos, que são formados pelo iodo ligado a uma proteína específica. Esses hormônios são os responsáveis por "ativar" nosso organismo, fazendo com ele funcione de forma harmônica.



2. O que é hipotireoidismo?
É quando a tireóide diminui seu funcionamento, até parar de funcionar. O termo "hipo" significa "menos" em grego. Portanto, há uma queda de produção de hormônios tireoidianos na circulação. O hipotireoidismo pode ser causado por destruição auto-imune da tireóide - que é a causa mais freqüente - e, neste caso, se chama tireoidite de Hashimoto. Mas é claro que você pode ter hipotireoidismo por outras causas, como cirurgia para retirada da tireóide, uso de radiação no pescoço, ou uso de remédios que bloqueiam a formação dos hormônios tireoidianos (como por exemplo, a amiodarona e o lítio).



3. Ei, meu médico disse que tenho essa tal de Hashimoto. Porque eu tenho isso?
Hashimoto é o nome do médico japonês que descreveu a doença. Não sabemos exatamente porque desenvolvemos esta doença auto-imune. Uma doença auto-imune é quando o corpo produz substâncias de defesa contra o próprio organismo, destruindo os tecidos alvos. Sabemos que o excesso de iodo presente no sal da nossa dieta pode predispor esta situação. Especula-se que conservantes químicos presentes nos alimentos também possam contribuir para o aumento da incidência de hipotireoidismo na população. Incidência, aliás, que vem aumentando, assim como a de todas as doenças auto-imunes.



4. Quais são os sintomas de hipotireoidismo?
Os sintomas de hipotireoidismo são vários, porém eles são bem inespecíficos. Normalmente podemos apresentar um ou mais sintomas relacionados ao hipotireoidismo. E mesmo apresentado só um dos sintomas, vale a pena investigar a sua causa.
Sintomas de hipotireoidismo:
a. Cansaço, indisposição
b. Dificuldade de concentração, lentificação da memória,
c. Depressão
d. Pele seca, áspera
e. Queda de cabelo
f. Intolerância ao frio
g. Fraqueza muscular
h. Anemia
i. Constipação (dificuldade em evacuar)
j. Alteração menstrual, infertilidade
k. Em crianças - queda do rendimento escolar, queda da velocidade de crescimento, alteração comportamental,
l. Bócio (aumento do volume da tireóide)
m. Alteração do colesterol
Vale lembrar que podem existir outras causas para esses sintomas, que devem ser investigadas após exclusão do hipotireoidismo.


5. Todos dizem que o hipotireoidismo é aquele que engorda. É verdade?
Em um indivíduo com hipotireoidismo, as células do corpo funcionam de forma mais lenta. O corpo não queima gordura como deveria. Além disso, o indivíduo retém líquido. Por estes motivos, há ganho de peso que, no entanto, é reversível com a reposição do hormônio que está faltando.


6. Durante quanto tempo devo me tratar?
Na grande maioria vezes, a causa do hipotireoidismo é por destruição da glândula tireoidiana. Desta forma, você não tem um órgão que produza o hormônio essencial para que você tenha uma vida com qualidade e saudável. Seguindo este raciocínio, devemos repor este hormônio pelo resto da vida. No entanto, há casos de hipotireoidismo transitório, como 
por exemplo a tireoidite subaguda, que é causada por uma infecção viral na tireóide. Porém, são menos freqüentes e devem ser avaliados pelo seu endocrinologista.



7. Se eu tiver hipotireoidismo, posso engravidar?
O hipotireoidismo sem tratamento é uma das principais causas de infertilidade na mulher em idade fértil. No entanto, com o tratamento adequado, a gestação é possível. A mulher deve fazer o acompanhamento do hipotireoidismo com seu endocrinologista durante toda gestação, pois há necessidade de maiores doses de reposição de hormônio tireoidiano nesta fase.



8. Bom, e o que é o hipertireoidismo?
O hipertireoidismo é o oposto do hipotireoidismo: a glândula funciona mais do que deveria. A principal causa também é auto-imune, porém neste caso há estímulo para aumentar seu funcionamento, ao invés de diminuí-lo. É também chamado de Doença de Graves, e este nome assusta muito os pacientes por causa do "graves" no final. Mas, novamente, Graves é o nome do médico que descreveu a doença. Esta condição realmente é uma doença séria que, se não tratada, leva a risco de morte.
Os principais sintomas do hipertiroidismo são:
a. Aceleração do pensamento, ansiedade, insônia
b. Batedeira (taquicardia)
c. Mãos quentes e úmidas
d.Perda de peso na maioria das vezes

O hipotireoidismo sem tratamento é uma
das principais causas de infertilidade na mulher
em idade fértil. No entanto, com o tratamento
adequado, a gestação é possível.
e. Hiperdefecação (evacuar muito)
f. Hipermenorreia (menstruar muito a mais que o normal)
g. Pode haver olhos saltados

8. Eu tenho um nódulo na tireóide, mas não tomo remédio.
Os nódulos são locais de excesso de armazenamento de colóide, uma proteína que serve de base para a produção dos hormônios tireoidianos. Não sabemos exatamente porque os nódulos são formados; tanto o excesso quanto a falta de iodo pode contribuir para o seu aparecimento. Preocupamo-nos mais com aqueles que insistem em permanecer e aqueles que são maiores. A tireóide pode apresentar nódulos sem ocorrer alteração na produção hormonal. Outras vezes, pode haver relação entre o nódulo e o funcionamento da tireóide.


9. Meu nódulo é um câncer?
Existem algumas características ao ultrassom que fazem com que devamos investigar mais detalhadamente, ou seja, puncionando os nódulos suspeitos. Mas, a incidência de câncer de tireóide nos nódulos é menor do que 5 %.


10. Se for câncer de tireóide, como tratar?
Realizamos a retirada de toda tireóide e, se necessário, retiram-se também os gânglios do pescoço. Nos casos de tumores das células produtoras de hormônio tireoidiano, as quais captam iodo, o indivíduo ainda é submetido à uma carga de iodo radioativo para destruir qualquer resquício de célula tireoidiana.
Por outro lado, há o tumor de células C, chamado de Carcinoma Medular da tireóide. Este tumor não capta iodo, e, portanto não usamos o iodo radioativo para tratá-lo. Fazemos acompanhamento com exames de sangue e de imagens. Muitas vezes há necessidade de pesquisar toda a família, porque este tipo de câncer pode ser hereditário. Fazemos o diagnóstico genético da suscetibilidade familiar antes que qualquer indivíduo daquele grupo desenvolva doença. Operamos antes de a doença aparecer, sendo esta uma cirurgia curativa.
Dra. Bibiana Prada de Camargo Colenci
Mestre em Endocrinologia
Endocrinologia e Diabetes
CRM 93718