sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Fique em Pé Para Viver Mais !










Crédito:iStock
Não fique aí sentado achando que vai ouvir a mesma história de sempre. Sabe aquela do levante-se para mexer o seu corpo, andar, correr, pedalar…? Não, não, não! Garanto que não é do que se trata. Ok, se quiser fazer exercício, tanto melhor. Mas pode ficar simplesmente de pé.  Já é grande coisa. Se todo mundo desencostasse as nádegas das cadeiras mais vezes ao longo do dia, reduzindo o tempo de permanência sentado a três horas apenas, 4 em cada 100 mortes poderiam ser evitadas. Ou seja, mais de 430 mil pessoas ao redor do globo  continuariam vivinhas da silva neste ano.ky
Dou a estimativa em tom de brincadeira, mas ela é muito séria, causou alvoroço na comunidade científica internacional e foi calculada por pesquisadores brasileiros da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a partir da análise de informações de 94 países de todos os continentes, com exceção da África, por falta de dados.
Não deixa de ser ironia pensar que a humanidade caminhou de um ancestral macaco para, no final, um sujeito evoluído como o Homo sapiens sapiens —  aparentemente tão sábio que é “sapiens” duas vezes — usar toda a sua  inteligência para se contorcer encolhido em bancos escolares, a fim de alcançar com esforço uma poltrona giratória de escritório e, quem sabe, com alguma sorte, reclinar o corpo confortavelmente no sofá da sala de televisão depois do expediente. É, o sabichão moderno se esqueceu do seu tataravô, o Homo erectus, que há mais de 50.000 anos se ergueu sobre duas pernas.
Sentada diante da minha mesa de trabalho, conversei pelo Skype com o líder do estudo, o educador físico Leandro Fórnias Machado de Rezende, igualmente sentado, só que em Harvard, nos Estados Unidos. Ele hoje está nessa que é uma das mais prestigiadas universidades do planeta para completar seu doutorado sobre atividade física e câncer — outra história fascinante que prometo lhe contar mais dia, menos dia. Dessa vez, porém, o nosso papo foi sobre impacto de as pessoas passarem tanto tempo sentadas. Como nós dois ali, diga-se de passagem.
Rezende chamou a minha atenção para algo que eu nunca tinha notado: são pouquíssimos os trabalhos sobre o comportamento sedentário. Verdade. Repare nisso você também. O que há são muitos estudos sobre a importância de um estilo de vida ativo, ou seja, sobre o que a gente ganha ao praticar uma atividade física qualquer. E, de fato, ganhamos muito quando nos exercitamos.  Mas, na contrapartida, poucas pesquisas acusam com precisão as perdas de alguém ficar parado. Ou, no caso, sentado. As primeiras investigações sobre o comportamento sedentário não têm mais do que dez anos.
A pretensão do trabalho brasileiro, como Rezende gosta de reforçar, não foi chegar a uma recomendação do tipo “fique tantos minutos de pé diariamente”.  Seria bobagem. Muito menos houve a ideia de apontar o dedo em riste para quem permanece a maior parte do seu dia em uma cadeira. Ora, não é simples mesmo. Muita gente gasta horas sentado só para se deslocar de casa para o trabalho.
O que Rezende e seus colegas queriam era propor um questionamento — a ciência vive disso. Eles então se perguntaram: o que aconteceria se todos ficassem simplesmente menos tempo sobre uma cadeira? O equivalente a se indagar o que ocorreria se todo fumante largasse o cigarro.
As contas, extremamente complexas, cruzaram taxas de mortalidade com dados a respeito do período em que os indivíduos costumam ficar sentados nos países da amostra. O resultado aponta que qualquer oportunidade de ficar em pé, por menor que seja, já é capaz de trazer ganhos para a saúde. Isso mesmo.
Se conseguíssemos ficar duas horas a menos sentados todos os dias, isso já evitaria 2% de mortes. Uma horinha a menos apenas? Ainda assim, 1,2% a menos de mortesE por aí vai. Qualquer tempo de permanência em pé já prolonga a vida. Em compensação, para quem passa o dia na cadeira, fica o alerta: a partir de sete horas sentado, seu risco de morrer aumenta 5%. Oito horas? 13%. E, de novo, por aí vai.
Outros trabalhos dizem mais: se você pratica até duas horas diárias de exercício, investimento de tempo para se sentir a pessoa mais ativa do pedaço, ainda assim cada gota de suor do seu esforço para ser saudável pode ir para o ralo. Isto é, caso você passe o restante do dia sentado, depois de sair da academia, por exemplo. Malhar é excelente — nem pense o contrário! –, mas não é passaporte para o sofá.
E daí, claro, vem uma série de hipóteses para justificar todos esses achados. Uma delas: a posição sentada complicaria a ação do óxido nítrico, substância que ajudaria a relaxar os vasos, mantendo a pressão em ordem, e que também está envolvida com as reações do sistema imunológico contra bactérias, entre várias façanhas. Outra especulação é que, sentado, o corpo ativaria menos uma enzima, a lipase lipoproteica, que ajuda no controle do colesterol e de outros fatores de risco.
Sempre ponderado, Rezende faz questão de lembrar que cientistas, como ele próprio, gostam pensar em possibilidades biológicas para tudo. Ou seja, estamos falando de possibilidades para explicar o fenômeno. Pode ser, pode não ser… Até o momento, ninguém é capaz de afirmar, categoricamente, por que uma cadeira não é lugar para você relaxar nos cuidados com a saúde.  Enfim, por que ficar sentado pode encurtar a vida até de quem faz exercício? Os cientistas ainda buscam o motivo.
Sei não…Acho que é melhor a gente esperar essa resposta de pé.
fonte: https://luciahelena.blogosfera.uol.com.br/2018/01/25/levante-se-ja-dai-para-ler-este-texto-fique-em-pe-para-viver-mais/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua mensagem.